“Toda a alegria que o mundo contém
Vem de querer felicidade para os outros.
Todo o sofrimento que o mundo contém
Vem de querer felicidade para si mesmo.”
É preciso entender que tipo de segurança buscamos e o que de fato queremos proteger. Senão, estaremos dando a mão para o inimigo, acreditando, pelo seu belo discurso, que o que estamos fazendo é o correto.
É comum ouvirmos que existem “pessoas boas” e “pessoas más”, no entanto, é preciso estar atento à bondade e à maldade que nos habitam.
Há um ditado que diz que há dois lobos dentro de nós: o do amor e o do ódio e o rumo de nossas vidas vai depender de qual deles alimentamos mais.
Filme: Marcados pela Guerra
O filme “Marcados pela Guerra” nos traz uma oportunidade de reflexão sobre essas “certezas”.
A primeira certeza que ele nos apresenta é a de que existem dois lados antagônicos: um deles é ocupado pelo exército americano fazendo o seu trabalho; já o outro, é ocupado pelos detentos tidos como terroristas que representavam uma ameaça à sociedade.
O enredo proporciona uma aproximação e um questionamento entre esses dois pólos representados pela policial Amy Cole (Kristen Stewart) e pelo detento Ali Amir (Peyman Moaadi).
É interessante notar que Cole se alista no exército em busca de um propósito para a sua vida. Ao vivenciar a nova realidade, ela compreendeu bem as regras e a dor de viver tão rigidamente sob um regime machista e autoritário. Tal desconforto levou-a a refletir sobre tal sistema, relevando preconceitos e arriscando-se a um contato mais humano com o detento, que passou a ser o seu real propósito naquela missão.
Claro que tudo é um pouco romantizado entre os dois personagens, mas o que pretendo destacar aqui é a quebra de uma certeza:
“A opinião mais comum sobre prisioneiros é que se uma pessoa está na cadeia é porque fez algo de errado, muitos ainda consideram que a condição de cárcere despe o indivíduo de qualquer direito, justificando qualquer tipo de tratamento que venha a receber de agentes da lei.” (Alex, 2015)
Nesse tipo de raciocínio, a individualidade é deixada de lado e passa-se ao status de uma “massa uniforme e sem nome”. Isso é base para que toda a barbárie se instale, e ainda legitimada pelo discurso higienista da segurança.
E aqui, cabe a seguinte questão:
“Da mesma forma que Cole chegou à prisão munida de todos os preconceitos que a convenciam de aceitar qualquer ordem como correta e necessária, o medo do terrorismo faz com que a população norte-americana não apenas apoie, mas exija do governo atitudes agressivas contra países inteiros, sob a justificativa de combate a um terrorismo muito mais psicológico que real.” (Alex, 2015)
Essa reflexão se estende para além da questão do “ser prisioneiro” de fato. Somos prisioneiros de nossos julgamentos e de nossos sentimentos de culpa, assim como fazemos com que outros sejam “prisioneiros” por serem tidos como “errados” e “culpados” e isso nos legitima a ter comportamentos baseados no ódio (para mais reflexões, retome o post). Coletivamente isso ganha ainda mais força, como no caso de leis que autorizam tais atitudes.
Segurança X Justiça
É evidente que devemos sempre considerar a questão da justiça e que cabe a cada um “colher aquilo que plantou”. O que não se deve, no entanto, é basear-se numa visão ingênua de “bons” e “maus”, separar como o “joio” do “trigo” e punir os “maus”, numa postura simplória.
Cabe a cada um olhar para dentro de si e eliminar estados mentais negativos (“maus”) evitando alimentar o lobo do ódio, desapegando de pensamentos e sentimentos de sofrimento. Essa limpeza se faz necessária. É preciso essa limpeza para termos a segurança que tanto buscamos. Bem como é necessário alimentar diariamente o lobo do amor, para uma sociedade continuar a ter rostos e nomes.
Referência:
ALEX. Marcados Pela Guerra (Camp X-Ray). Disponível em: <http://artigosdecinema.blogspot.com/2015/10/marcados-pela-guerra-camp-x-ray.html>, acesso em 11/11/2018.
Sigam-me,
Cristina Monteiro – Psicóloga (PUC-SP), Psicopedagoga (Instituto Sedes Sapientiae) e Psicanalista. Atende na clínica com psicoterapia (enfoque psicanalítico) e coaching em resiliência (controle do estresse) – consultório em Pinheiros (São Paulo). Ministra palestras e treinamentos comportamentais in company pela sua empresa Ponto de Palestras e Treinamentos. Escreve semanalmente neste blog. Acompanhe.
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